"Surfar é uma arte e há muitas linhas diferentes para desenhar em uma onda" Kelly Slater







segunda-feira, 26 de julho de 2010

Bustin Down The Door


Rabbit, Mark e Shaun.

A idéia de mudança esta sempre presente em nossas mentes, mudar, construir algo novo, otimizar o já existente, melhorar, proporcionar uma vida melhor para as pessoas que estão próximas, ou simplesmente, mudar para viver um sonho.

Mudar traz problemas. Mudar traz desconforto. Mas mudar também pode trazer prazer e realização. Mudar pode trazer consigo sorrisos, gargalhadas, mas também, lágrimas de quem sofreu, por um sonho, por um ideal.

Essa história é de 3 rapazes que optaram por mudar e por viver intensamente seus sonhos. Este clã formado por 2 australianos e um sul-africano quebrou barreiras, incomodou muita gente e com certeza mudaram muita coisa, afinal eles criaram um esporte chamado Surfe.

Até então, o surfe estava perdido. Perdido por que não pertencia a nada, era uma tribo independente, mas que também não fornecia muito ao mundo, pensando quem no final dos anos 60, tínhamos comunidades como a dos hippies que lutavam pela liberdade, e defendiam seus “amigos” convocados para mais uma estúpida guerra norte-americana (Vietnã).

Os surfistas alienados eram um conjunto de diversas tribos, porém o que mais tinham, ou que forneciam era a liberdade associada com a natureza. Mas mudanças estariam por vir.

Dois australianos começaram a destacar-se em suas ondas nativas, um deles era Wayne Bartholomew, conhecido como Rabbit. O outro, era Mark Richards. Ambos possuíam uma nova forma de surfar as ondas, tinham em seus corações uma atitude nunca vista até então no coração de um surfista, eles simplesmente eram mais que simples surfistas, eles eram os melhores.

Ao descobrirem que era no Havaí que estavam as melhores ondas do mundo, logo, arrumaram uma forma de irem para lá. Uma forma por que não eram cheios de grana, muito pelo contrario, Rabbit tinha uma experiência de vida, muito comum de países de 3° mundo, porém, ele com uma família de várias irmãs e sem pai (separado), era o homem da família, e até roubar para alimentar-la ele fez. Errado, mas quem sou para julgar...

Entre idas e vindas, a primeira temporada no Havaí chegou. Mark e Rabbit logo se juntaram ao sul-africano, que talvez possuísse um dos estilos mais bonitos da época. Shaun Tomson.

Era 1974. A mudança começava.

Eles queriam apenas uma coisa, serem os melhores do mundo. Porém o surfe ainda não era um esporte profissional como o de hoje em dia, o surfe era surfe, sem propósito, sem responsabilidade, era apenas o que cada um fazia dele, era apenas surfar ondas, mas não para eles.

No Havaí, naquela época começaram os primeiros torneios, um deles era para homenagear Duke Kahanamoku, o pai do surfe havaiano. E o outro torneio era o Smirnoff Pro.

Os três destemidos garotos quebravam as ondas, a realidade é que mesmo os melhores surfistas havaianos não chegavam aos pés dos 3, era incrível a velocidade, a radicalidade, e a atitude daqueles moleques gringos, porém, nada disso era relevante, já que, para competir nesses torneios, necessitavam ser convidados.

Eram apenas 24 convites, e todos para surfistas havaianos.

1975. A mudança chegava.

Um convite para o grupo foi dado. Mark Richards era o escolhido, porém, o preço a pagar era de 50 dólares, dos quais, Mark não possuía nem um. Nesse momento, Rabbit, diz “eu tenho”, mas não para ele. Rabbit coloca Mark na água. E este vence quase todo mundo. Logo de cara.

1976. Mudou.

Nesse ano, todos os meninos estrangeiros entram nas competições havaianas, e entre eles, vencem tudo. Mark vence o Smirnoff Pro, Rabbit o campeonato em homenagem a Duke, e Shaun Tomson, vence o Pipeline Masters (que existe até hoje).

Acabou, os gringos dominaram o Havaí. Chegaram e mesmo sem serem chamados Derrubaram a porta da frente. Ficaram famosos, não tinham um titulo mundial, até por que isso ainda não existia, porém ganharam o que tinham para ganhar. Fama, reconhecimento e entrevistas polêmicas começaram a acabar com o conforto deles em terras estrangeiras.

Rabbit e Shaun, fizeram muito sucesso e falaram muito, na qual refletiu mal entre os locais havaianos, até o ponto de que eles estavam banidos das praias, não podiam surfar mais lá.

Bom, até que era “correto” a postura havaiana, afinal, era um país que foi tomado pelos americanos, seus costumes estavam desaparecendo, as poucas coisas que sobravam eram as ondas, das quais esses caras também estavam dominando, e ainda, falaram para quem quisesse ouvir que eles eram os melhores, eram os “números 1”.

Porrada! Ponto. Essa foi a solução. Ameaças de morte, perseguições, colocaram tanto medo, que ambos tiveram que se esconder na ilha. Não podiam fazer nada, sair é perigoso demais.

Mudar é perigoso, mas naquele momento, era enfrentar a situação ou então um sonho morreria.




Mark Richards

Eddie Aikau surge.

Esse nome tem muita história dentro do surfe. E que não sabia era desta história que conto agora:

Eddie encontra Rabbit que a dias dormia dentro de um bosque perto da praia, sem banho, sem comida, sem nada. Eddie o leva até um hotel prometendo-lhe resolver todo esse enorme problema.

3 dias depois, Rabbit desce do quarto do hotel com Eddie até uma sala de reuniões, lá ele encontra seus dois amigos, Shaun e Mark e mais umas cento e poucas pessoas, loucas para lhe arrancar o couro com uma colher. Era a morte certa.

Eddie consegue colocar todo aquele nervosismo em uma discussão racional, da onde chegasse ao ponto que todos os estrangeiros percebem seus erros, percebem que deviam mais respeito, que deviam entrar em sintonia com tudo aquilo. Mudar sim, mas respeitando a cultura de um país que eles não compreendiam.

A verdade é que Rabbit e seus amigos morrem aquele dia. Não fisicamente, mas aquela repressão de alguma forma, mata um pouco de seu espírito, de sua atitude nas ondas. Mas pelo menos, o ar ainda entra em seus pulmões até hoje.

No final dos anos 70.

Finalmente o sonho dos 3 acontece. Surge um circuito mundial. Em seu primeiro (1976) ano Peter Tomnend outro australiano vence por conseguir uma regularidade incrível, porém o segundo ano (1977) é vencido por Shaun, confirmando seu sonho.

Ano seguinte (1978) a vitória de Shaun, é a vez de Rabbit vencer, comprovando que tinha realmente nascido para ser o melhor do mundo. E depois, já com uma nova revolução de pranchas, Mark Richards com sua bi-quilha inicia um longo domínio, vencendo 4 vezes consecutivas o circuito mundial.

Não há volta.

Depois de Rabbit, Mark e Shaun, o surfe nunca mais foi o mesmo. Eles derrubaram a porta da frente e enfiaram goela abaixo seus sonhos, o sonho era fazer o surfe ser esporte e que seus amantes e seguidores pudessem viver disso. Naquela época a idéia de viver do surfe era pagar as contas e ganhar pranchas novas de seus patrocínios, acho que naquela época eles nunca imaginavam que o surfe chegaria a cifras milionárias de hoje.




Shaun Tomson

Mudar.

Sempre temos vontade de mudar alguma coisa em nossas vidas, porém quase sempre arrumamos argumentos, muitas vezes extremamente convincentes para não fazer aquilo que realmente queremos. Mas acho que as vezes devemos derrubar a porta mesmo antes de sermos convidados, e simplesmente entrar em uma vida nova, mudar.

Mark, Rabbit e Shaun, colocaram suas vidas em risco por um sonho, por um sonho deles, algo que eles acreditavam, como mudar a cara do surfe e transformar-lo em um esporte. Mas quantas pessoas já lutaram e até mesmo deram a vida por uma mudança? Acredito que muita gente já o fez.

Não acredito que todos são dignos de proporcionar mudanças a humanidade, ou então, mudar completamente a forma de pensar sobre alguma coisa, mas você pode mudar, qualquer um pode mudar alguma coisa.

Assim, o que quero deixar depois deste longo texto é que mudar é possível, porém saiba que se você enfrentar todo o desconforto, os perigos, a dor, e o peso de mudar, com certeza o resultado final serão lágrimas, lágrimas por que naquele momento mais difícil em vez de fugir você levantou, estufou o peito, e disse: Eu vou mudar, eu acredito.


Wayne Bartholomew

“Seja você mesmo, mas não seja sempre o mesmo”. Gabriel “O Pensador”.

Texto inspirado no filme “Bustin Down The Door” de Jeremy Gosch, inspirado em Wayne “Rabbit” Bartholomew e produzido por Shaun Tomson, de 2008.





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