"Surfar é uma arte e há muitas linhas diferentes para desenhar em uma onda" Kelly Slater







quarta-feira, 7 de julho de 2010

Aos meus olhos, uma Copa....

Até o momento não havia escrito nada sobre a Copa do Mundo, não sei bem o porquê, mas hoje ao comentar o último texto do blog Pão na Chapa (link na lateral direita), vi que tinha de falar sobre o assunto.

Muito ouvi nessa Copa que sou mais argentino que brasileiro, quando o tema é futebol, muitas vezes me defendi, dizendo que não, que não era por ai, mas isso foi ficando cada vez mais evidente ao longo da competição. E realmente acabei assumindo que, torci muito pela argentina, coisa que não consegui fazer de mesmo espírito com o Brasil, com Dunga.

Isto por que os argentinos como os uruguaios possuem algo que nos não temos, algo que acaba por justificar a identificação de muitos pelo futebol platino, que é a raça e a determinação de nossos hermanos.

A verdade é que nos brasileiros fomos abençoados com a alegria, com o futebol alegre, vistoso, de passes limpos e jogadas geniais, com jogadores que mais são artistas que atletas enquanto nossos “rivais” que possuíram poucos gênios e acabaram por desenvolver outras estratégias para chegar a vitória.

Mas gostaria - se me permitem - aprofundar um pouco mais esse conceito. Argentinos e Uruguaios, além da genialidade que não receberam (exceto alguns jogadores na história), também não receberam a benção da alegria brasileira.

Como assim? Esta querendo me dizer então que eles não são felizes!? Calma. Respondo ao meu afoito leitor, o que quero dizer é que nos brasileiros temos uma forma de levar a vida que é rara em qualquer outro lugar do mundo.

Mesmo que a vida nos maltrate temos pronto um sorriso para devolver, sempre temos uma piada pronta, mesmo se o caso for o mais assombroso. O brasileiro aprendeu ao longo de sua história sorrir para a desgraça, e assim, o cangaceiro sobrevive, o morto de fome e frio morador de rua sobrevive, assim todos nos sobrevivemos a corrupção, a desgraça, ao transito, a tudo.

Mas lá fora nem todos conseguem sorrir ao diabo. Nossos hermanos Argentinos e Uruguaios, e por que não Chilenos e Paraguaios, não conseguem rir para tudo, talvez isso seja o grande motivador de tanta raça de seus atletas, tanto no futebol quanto em outros esportes.

Falando mais especificamente de que conheço melhor, o argentino, tido como arrogante por todos os brasileiros, apenas o é (apesar de discordar profundamente) por que não ri tanto, por que luta 24 horas por dia para ganhar um pão melhor, uma casa melhor, uma condição melhor. Reivindica tudo e a todos.

Todos nossos hermanos sul americanos, lutaram desde o começo de sua história, lutaram muito, e toda luta é resultante de dor.

Dor. Era ai que queria chegar. Lembram da pergunta do afoito leitor? Felizes eles são meus caros, mas vivem amargurados e possuem ainda muita dor, de tempos de ditaduras, de massacres militares, de guerras perdidas.

A recepção portenha aos jogadores argentinos(20 mil torcedores) e a recepção que já vem sendo programada para os jogadores Uruguaios que ainda possuem mais uma batalha na áfrica, é justamente o reflexo de uma nação que esta acostumada a sofrer.

São nações que sabem o quanto foi importante cada carrinho, cada gota de sangue derramada em território africano, de cada lesão, por que a cada momento de jogo, a cada minuto, a cada chute o povo estava unido, e provavelmente esquecido da dor do dia-a-dia.

A admiração que sentimos, ainda mais aflorada pela campanha brasileira na copa, é resultado da própria criação de um povo, algumas pessoas conseguem ver e se identificam com a raça platense, porém não são todos.

Essa raça vista ontem pelos Uruguaios, não veremos em nossa seleção, e até me arrisco dizer que nunca veremos nada assim, mas tudo bem, não é também motivo de desespero, por que cada país representa a seu povo, o brasileiro possui a alegria, e a determinação vai até um certo ponto, depois, não adianta pedir raça, por que essa não se aprende, se nasce.

Acredito que a magoa do brasileiro, no intimo não é porque os jogadores não deram a tal raça, mas por que o Dunga nos retirou a identidade, nos retirou a alegria e a espontaneidade, assim, não vimos nossa seleção, vimos algo com a camisa amarela em campo.

A verdade é que não tenho mais por quem torcer nessa copa do mundo, para mim, ninguém mereceu tanto ser campeão como a Argentina esse ano, nem só pelo meu ídolo Maradona, mas por Messi, Verón, Tevez, Di Maria, Heinze, Gutierrez, Masquerano, Milito, Higuaín. Pelo meu avô, pela minha avó, pelos meus tios, pelos meus primos e sobrinhos. Por toda uma nação que espera a 24 anos um titulo.

Por que merecia, por não ter fugido de suas raízes, como Dunga fez com nossa seleção.

Ontem com a eliminação do Uruguai fiquei ainda mais convicto, que não gosto do futebol europeu, um futebol industrializado, um futebol burocrático, um futebol que desconhece a paixão do 3° mundo, um futebol que não precisa de vitórias para unir seu povo.

Agora, torço para que 2014 seja diferente, não torço única e exclusivamente para o Brasil ser campeão, até por que duvido que ocorra, com as campanhas que já se iniciaram, principalmente pelo mala do Tiago do globo esporte e do mala mor Galvão Bueno, onde já colocam que é OBRIGATÓRIO ser vencedor! Obrigatório ser vencedor? Acho que o futebol ainda é um esporte, assim, vencer é parte e não seu todo.

Espero que em 2014 (como dizia), vença um time sul americano, por que esses sim necessitam ganhar, esses sim, necessitam dar alegrias a seu povo sofrido, sejam aqueles que vêm tudo de forma alegre ou a aqueles que carregam uma eterna dor em seus corações.

Mas como diz o mágico ditado, o futebol é uma caixinha de surpresas...

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