"Surfar é uma arte e há muitas linhas diferentes para desenhar em uma onda" Kelly Slater







sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Imperfeição.



Não nasceu para ser agressivo ou apenas rebelde

Não há necessidade de risos forçados ou palhaçadas fora de hora

Rir é um santo remédio, nas horas certas

É preciso estar doente

Pintar é ser artista?

Esculpir é a necessidade da arte?

Escrever, questionar é a necessidade da vida?

Amar?

Reunir o mundo, melhorar-lo, modificar-lo

Mudar?

A perfeição é formada por infinitas imperfeições

A onda perfeita é apenas uma união de imperfeições

A beleza é a imperfeição

Ninguém procura a perfeição

Procura reunir imperfeições

Devaneios verde-água

Paredes caem a sua frente, passe por dentro

Saia na Baforada, molhe o cabelo, seja imperfeito

Faça arte, sem pincel, sem nada

Pegue uma prancha e sonhe

Busque, a imperfeição da vida

E seja perfeito.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Um novo campeão.



Uma vitória improvável de um garoto incrível.

Uma vez, em um momento crucial de sua carreira, ele disse em aberto para o mundo ouvir logo após de perder uma bateria de forma bem estranha o seguinte para os juízes: “talvez eu deve-se nascer de novo, talvez devesse ser australiano ou quem sabe americano e ai sim, me levariam a sério”.

Ele não nasceu em nenhum berço do surfe tradicional, porém nasceu em um paraíso, tanto de paisagem como de ondas. Ilhas Reunião é sua casa natal, a bandeira vermelha, branca e azul de Napoleão é sua bandeira. Seu nome, Jeremy Flores.

Jeremy é um Young Gun da Quicksilver. É uma das maiores apostas do surfe, mas como ele mesmo desabafou, não é australiano, não é americano, não tem mídia, a verdade, ele esta junto de um monte de surfistas de 2° escalão para vendas e para as revistas.

No Brasil Jeremy tem um pouco mais de atenção, já que é namorado da Top Bruna Schmitz e principalmente fala muito bem o português, assim, acabou sendo acolhido pela mídia brazuca, mas nada demais também.

É difícil ver-lo estrelando alguma coisa, esta em quase todos os filmes de surfe, principalmente produzidos pelo seu patrocinador, porém, sempre foi um coadjuvante.

Assistindo o último campeonato do ano, vi o francês pegar um tubo impressionante, caíram a sua frente 3 sessões e o tubo fechou a sua porta de saída, Jeremy simplesmente dinamitou a saída, abriu seu próprio caminho, saiu de algo que não havia saída. Na hora gritei, “isso é um 10”, mas não foi, algo na casa dos 9 pontos. Occy o lendário touro disse, na cabine de transmissão: “Ei, só o Slater tira notas 10? Qual é???”

Jeremy foi passando baterias, pegando diversos tubos nota 10, mas nunca veio. Mas os 9 pontos que ia tirando foram lhe levando para um confronto, onde havia apenas um favorito. O Francês pegou na semifinal o alien Slater.

O resultado estava defindo. Mais uma vitória do americano 10 vezes dono do mundo.

Errado!

Em um erro crucial do careca (raro de acontecer) deixou uma onda passar a menos de 1 minuto do final, dito e feito, la veio mais um 9 e uma final inédita.

Jeremy Flores atropelou seu adversário na final, e consagrou-se o primeiro europeu a vencer o Pipemasters.

O campeonato rolou em homenagem a Andy Irons, e seria irônico demais o Careca vencer, acho que A.I. surfou junto com Jeremy e lhe presenteou com altos tubos, o 10 não veio, mas tenho certeza que nesse momento o jovem garoto de apenas 22 anos, deixou de ser apenas um coadjuvante, tornou-se uma estrela, um vencedor do maior campeonato de surfe que existe.
Quem sabe um dia, para ser o melhor do mundo não se precise ser australiano ou americano (some os havaianos) quem sabe ser francês ou brasileiro, até japonês... sei lá, que a política não influa tanto, e sim, os melhores tubos e manobras.

Parabéns Jeremy Flores, agora você não é mais um Young Gun...

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Pipe Girls!

Stephanie em um tubão em Pipe - Fonte ASP.

Lá longe, em 2002 começou um sonho para as meninas. O filme americano chamado The Blue Crush, aqui no Brasil renomeado de A Onda dos Sonhos, conta a história de uma Havaiana que havia ganhado quando pequena o título nacional, porém depois de um trauma na maior onda e mais perigosa do mundo, Pipeline não conseguia desempenhar mais todo o potencial que tinha.

O filme é fraquinho, como todos os filmes dramáticos atualmente, mas mostra de forma escancarada a diferença das meninas e dos meninos quando o tema é surfe.

Ontem um feito histórico aconteceu no Havaí, finalmente colocaram as meninas na água, em Pipeline, para uma final da Tríplice Coroa Havaiana. Não foi um campeonato inteiro, foi apenas uma bateria, mas pelo menos as meninas puderam desfrutar de uma estrutura absurda e de um mar beirando a perfeição.

Deixa explicar melhor.

O campeonato masculino é dividido em 10 eventos, disputados em 10 lugares diferentes, com o encerramento no maracanã do surfe, Pipeline, Havaí.

O campeonato feminino é dividido em 8 eventos, e o último é em Haleiwa, Hawaí (?).

Isso por que existe ainda um pré-conceito terrível sobre as meninas. Muitos acreditam que elas não são capazes de surfar Pipe. Papo para boi dormir.

A verdade é que os mocinhos havaianos tem é medo de uma invasão da mulherada para dividir o Line-up (linha de espera para as ondas), e ainda por cima pegar as melhores ondas.

Ontem, 4 meninas tiveram a oportunidade de mostrar para a rapaziada e para o mundo, essa “falta de capacidade”. Stephanie Gilmore (4x campeã do mundo), Tyler Wright (15 anos), Coco Ho (Filha do lendário Michael Ho) e Alana Blanchard (musa do surfe mundial e classificada para o WT feminino de 2011).

Elas pegaram altas ondas, colocaram para baixo em todas as morras que vinham e muitas vezes eram nocauteadas dentro de tubos cavernosos. Mas elas sabiam a importância de uma apresentação de gala, sabiam que não podiam mostrar medo. Por que essa onda mete medo em qualquer um.

Era hora de mostrar para os homens uma vez por todas que não existe diferença, meninas e meninos no surfe ou qualquer outro esporte. Somos iguais, assim como em qualquer esfera de nossa sociedade.

As vezes fico impressionado como ainda “estamos” nessa onda de pré-conceito.

Não tenho certeza de quanto é o prêmio para o 1° colocado do Pipemastes (evento masculino), mas acredito que gire na casa de 50 a 100 mil dólares. Ontem a Stephanie GIlmore que venceu mais uma vez (diga-se de passagem), levou um cheque de 10 mil, um absurdo!!!

Tá bom, alguns diriam, 10 mil dólares para 30 minutos de trabalho, esta bom demais, ok, olhando por ai até acredito, mas você despecaria de uma onda de 2 metros e pouco, sabendo que a profundidade do mar não chega a 1 metro, e ainda o fundo e feito de coral afiadíssimo?

Os eventos diferentes, as premiações diferentes, tudo é diferente, tudo para elas é inferior e devia ser o contrário.

Elas merecem muito mais e provaram ontem para todos que estavam ali, parabéns meninas, continuem embelezando as ondas, trazendo um pouco mais de tranqüilidade para o fundo do mar, acalmando os marmajos que gostam de brigas... E principalmente continuem essa busca por mais espaço, afinal de contas, é muito mais gostoso assistir as melhores ondas do mundo sendo surfadas pelas melhores meninas do mundo!



sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Fênix?

Raoni sendo carregado ao podio (detalhe, um deles é o Neco, incrível surfista brasileiro apaixonado)


Em 1991 eu nem fazia idéia o que era surfe.

Mas tinha um “cabra arretado”, que mandou ver nas perigosas e densas ondas de Sunset Beach no Havaí. Foi o 1° e último brasileiro a vencer em águas havaianas... Opa espera ai um segundo, ERA até então o último.

Ontem o feito se repetiu. 19 anos depois um brasileiro volta a vencer em águas havaianas, o mesmo campeonato que o “cabra arretado” havia embolsado a tanto tempo atrás.

Nomes aos bois:

Cabra Arretado = Fábio Gouveia, ídolo brasileiro no surfe.

Brasileiro que voltou a vencer: RAONI MONTEIRO!

Assistindo as últimas baterias do campeonato, via o carioca, local de Saquarema destruir as ondas e assim ia passando as baterias, mas os locutores gringos não apostaram nem se quer um centavinho no brasileiro.

A final foi entre Julian Wilson (grande promessa australiana), Josh Kerr (ex-top WCT que conseguiu voltar a elite depois do evento), Granger Larsen (Havaiano) e Raoni (que também já fez parte da elite mundial).

Mas antes de falar da final, falemos um pouco de quem é Raoni Monteiro.

Raoni hoje tem 28 anos, mas quando o vi surfar pela primeira vez, a longos 8 anos atrás, no Surf Adventures I fiquei impressionado.

O Carioca era o cara mais Power e mais Radical de todos, tem uma patada inacreditável, algo meio Neco Padaratz, só que mais atual, moderno. Talvez por ter sido lapidado na incrível onda de Itaúna.

Possui-a um grande patrocinador (Rip Curl) por trás de sua carreira, o que lhe rendeu grandes viagens e filmes, porém essa parceria termina de forma estranha, quando Raoni perde no Havaí sua chance de continuar na elite do surfe mundial, o WCT.

Abandonado.

Depois vem uma lesão forte no joelho, operação e um bom tempo de molho. Ai vem as dúvidas, será que ainda dá, será que é o fim???

Casado e pai de uma filha, o surfe profissional pode ser ingrato, até mesmo para aqueles que não merecem. A um tempo atrás escrevi sobre uma competição da divisão de acesso realizada na Cacimba do Padre em Fernando de Noronha, onde Raoni fez a final e venceu. Na entrevista, exibia uma prancha toda branca, sem nenhum adesivo de patrocínio.

Hoje Raoni integra a marca internacional O’Neill, mesmo patrocinador do futuro campeão mundial Jordy Smith.

Bom voltando a final.

Raoni estava em 4° lugar na final, faltando poucos minutos para acabar a bateria, o brazuca encontra uma onda, a maior da série e arrebenta, primeiro com uma rasgada exibindo as quilhas para o mundo, seguindo de uma batida com 360° e uma porrada na junção a la Jõe “Smoke” Frazier.

De 4° lugar para o caneco tão sonhado. Ninguém mais poderia tirar o título que parecia tão improvável.

Confesso que não acreditava, torcia, mas achava difícil sei lá por que, talvez por que eu seja um baita de um pé frio, sempre que torço para alguém esse alguém perde, ontem foi diferente, ainda bem... Sorte do Raoni.

De quebra, além de escrever seu nome na história do surfe mundial, Raoni volta para a Elite mundial e se junta a Adriano, Jadson e Heitor (re-classificado esse ano), formando o quarteto mágico para 2011.

Mais legal de tudo foi ver o carioca antes do pódio, dando um beijo em sua mulher, nitidamente emocionado atrás de um óculos escuro (coisa de patrocínio), e depois contestando o locutor, falando que apesar de ondas pequenas ele havia surfado bem, Raoni, um verdadeiro campeão lhe responde (algo do gênero):

“Independente do tamanho do mar, o talento de todos os surfistas é o mesmo, as condições são as mesmas” faltou apenas dizer: O CANECO É MEU!

Parabéns Raoni e vai com tudo rapaz.

PS: Quem ainda tem chances de classificação é o filho de argentinos, Alejo Muniz, esse moleque é impressionante, tem um estilo inacreditável, algo como um Joel Parkinson brasileiro, mas depende de tropeços importantes de alguns dos tops na última etapa em Pipeline. Vamos torcer... Ou melhor, zicar os caras (rsrsrs)... Mick Jagger neles!