"Surfar é uma arte e há muitas linhas diferentes para desenhar em uma onda" Kelly Slater







domingo, 24 de abril de 2011

Hells Bells. 2° Etapa do WT – Um olhar apaixonado.


50 anos de comemoração de um campeonato extraordinário.

Lembro do filme, Caçadores de Emoção, com Patrick Swayze, onde em uma roda de surfistas fala sobre a famosa tempestade que atinge a Austrália, mais especificamente a praia de Bells Beach a cada 50 anos.

Não sei se foi a famosa tempestade de Bohdi (personagem de Swayze), mas que nesses últimos 5 dias vimos um swell incrível por lá, vimos. Fazia tempo que não via uma ondulação a cima de 2 metros de altura, com tanta qualidade por tantos dias seguidos.

Bohdi morre no final do filme, prefere a morte em uma onda dos sonhos a viver preso o resto de sua vida na cadeia. Em Bells esse ano ninguém morreu, ninguém foi conduzido ao inferno, bem, pelo menos literalmente, por que depois desse evento, alguns surfistas já se encontram com a corda no pescoço.

O WT agora tem uma postura diferente, quem não for bem, esta fora logo no meio do ano, e tem muita gente boa que vai acabar rodando. Inclusive alguns brasileiros, ou melhor, em minha opinião, Raoni Monteiro.

Raoni é um excelente surfista, merecia ficar mais tempo, mas vejo a ele o mesmo destino fatídico que teve Neco no ano passado. Não conseguindo se ajustar aos critérios de julgamento, além de ter pouco tempo para se adaptar as ondas do circuito, muito provavelmente voltará a disputar o estressante WQS e o circuito nacional, ao menos que mude esse cenário fazendo resultados incríveis nas próximas 3 etapas.

Heitor Alves, esta na mesma situação que Raoni, porém já pode fazer uma boa exibição esse ano, não sei, ele para mim é uma incógnita, pode deslanchar como acredita Kelly Slater, ou pode voltar ao WQS, depende dele.

Alejo foi bem como sempre, mas deu azar de surfar contra seu compatriota Jadson, que vem evoluindo muito, seu backside esta cada vez mais selvagem, mas fluido e rápido. Jadson vai muito longe no mundial, não sei se um título, mas ficará como Adriano, muito tempo entre os melhores do mundo.

Mas nem tudo esta perdido para Alejo, este possui um excelente resultado na 1° etapa e bons resultados em WQS que auxiliam na hora da degola. Esta em 9° lugar no ranking, empatado com Jadson.

Adriano é um caso a parte. Sempre foi o cara do Brasil para lutar pelo inédito título mundial. É nítida a vontade desse guerreiro, mas ainda peca na irregularidade. Nas transmissões sempre escuto falarem sobre a construção de um momento.

Esse momento se constrói através de vitórias seguidas nas baterias. Tornando aquele momento de empolgação perigoso para os outros competidores. Adriano deveria ter mantido o seu, venceu de forma brilhante o 10 vezes campeão mundial, Slater, deixando-o em combinação de notas. Adriano colocou contra seu maior rival uma somatória de 18 pontos sobre vinte e foi encarar Joel Parkinson nas semis.

Adriano não foi páreo para Parko, que em poucos minutos somou notas que davam a vaga para a final. É dessa regularidade que falo. Essa era uma vitória que poderia ter sido conquistada, todos tinham medo de Adriano, afinal, deixar em combinação o 10 vezes campeão do mundo não é para qualquer um.

Adriano fecha seu campeonato com um 3° lugar e assume mais uma vez seu lugar no ranking, dentro top 5. Sentado tranquilamente na 4 colocação, Adriano tem tudo para incomodar esse ano, e quem sabe igualar ou melhorar a marca de Vitor Ribas, que até hoje é o melhor brasileiro no mundial com um 3° lugar.

A FINAL

Joel Parkinson atropelou todos seus adversários durante o campeonato.

Mick Fanning atropelou todos seus adversários durante o campeonato.

Parko mandou para casa Adriano nas semis, e Fanning vez uma bateria espetacular contra Jordy Smith, somando 18.87 de 20 possíveis (uma das melhores baterias do campeonato e do ano).

Na final Joel atropelou Fanning.

Joel surfou muito, muito, muito cansado. Mesmo assim, arrancou notas espetaculares como um 10 (que não sei bem se foi mesmo, porém não mudaria nada), que foi mais um premio para o filho mais querido da Austrália.

Ao terminar, Fanning abraça seu amigo de infância na areia. Visivelmente feliz pela conquista do seu “irmão”. Parko, corre loucamente para o que já lhe pertenceu outras 2 vezes, o SINO.

O sino tocou mais uma vez, e agora depois desse festival de ondas perfeitas, o tour se dirige ao Rio de Janeiro, nas marolas sem vergonha de nossos beach breaks. Só espero que a tempestade de Bohdi, dirija-se as águas cariocas, e possamos apresentar um show como foi na Austrália!

O WCT do Rio vai dos dias 11 a 22 de maio.

Até lá.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A arte de educar.


Nunca em minha vida havia pensado em ser professor. Quando menino queria ser bombeiro ou astronauta – provavelmente – como quase todo menino de 5 a 10 anos. Depois, por toda a minha adolescência sonhei em ser um campeão. Era o que mais me motivava até entrar em minha “sala de aula”, a quadra!

Ser um educador é algo que nunca tinha pensado.

De repente a vontade de ser um grande atleta se transferiu, pela lógica, em ser um treinador do mesmo esporte. Mas a vida foi me conduzindo por outro caminho, até que hoje não tenho outro sonho, ou melhor, vivo um sonho do qual nunca havia sonhado, me tornei um jovem professor.

Ser um educador é algo especial, é aquele individuo que pode, ou melhor, possui o poder de ajudar uma quantidade de outros indivíduos a serem melhores seres humanos. Pode-se mostrar a seus alunos o que é o amor, a amizade, a justiça, a responsabilidade e ainda, pode ajudar-los a pensar e sonhar.

Sempre lembramos com orgulho de algum (e se possível de alguns) professor que nos marcaram, que nos disseram alguma coisa, ou que nos complicaram a vida de tal forma que naquele momento ficamos até cegos de tanta bronca, mas depois, vemos o quanto foram importantes para nosso crescimento.

Existem tantos professores que me marcaram, professores que me ensinaram a pensar de forma crítica e a não acreditar em tudo que era dito; existiram professores que me ensinaram a transcender pensamentos e fundi-los em palavras em uma página pautada de caderno; existiram professores que me fizeram suar e queimar todos os neurônios, para mostrar que, a vida não é tão fácil e muito menos tão exata quanto a matemática ou a física.

Hoje tento colocar um pouco de cada professor que tive dentro de mim para tentar ajudar meus alunos a crescerem, a absorverem valores que não são ensinados na faculdade, nem em livros ou normas educacionais.

Trabalhar com crianças, desde as fraldas até seus 10 anos, me mostra o quanto podemos fazer para ajudar a esse mundo ser melhor, ser mais belo, ser mais romântico.

Poder todos os dias chegar mesmo que exausto ao portão da escola, e assim que ele fica para trás, ver os sorrisos daqueles que te esperaram a manhã toda para sua aula, vale muito, vale mais que qualquer salário, estresse ou problema.

Poder sonhar junto com essas crianças, dividir seus anseios, seus medos e auxiliar-los com isso, é maravilhoso. Poder tornar-los mais humanos, algo que deveria ser tão natural, mas que nos dias de hoje podemos perceber que não é bem assim. Humanizar nossas crianças é um trabalho árduo, fazer-los entender que é mais fácil amar um amigo (a) do que maltratá-lo ou ridicularizá-lo.

Sou professor de educação física, trabalho com futsal e natação, assim como aulas de educação física e construção de jogos e neles meu principal objetivo não é que sejam craques da bola, ou futuros “Cesar’s Cielos”, meu principal objetivo é que saibam amar, saibam sonhar, saibam criar amigos e viver uma vida saudável, uma vida FELIZ!

Hoje sou professor e me orgulho tanto disso, tenho tanto prazer em dizer que minha profissão baseia-se em ensinar.

ENSINAR!

Queria agradecer a todos os professores que tive, aqueles que amei e até mesmo aqueles que não me dei bem, por que com todos eles aprendi. Foi com todos eles que cheguei aonde cheguei, somando ainda com os maiores “professores” que tive, meus pais.

Muito obrigado, e que nunca desistam de um aluno e principalmente, nunca desistam da arte de educar, afinal, o mundo depende de nós.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A feiticeira.



Fazia tempo desde nosso último encontro, do qual a data me falha a mente. A ausência de simples coisas na vida, são como uma ulcera da qual você só percebe quando o problema já é grande, quando a dor é quase insuportável, ai meu irmão, é hora do remédio salvador e torcer pela cura!

Fazia tempo desde nosso último encontro. Há meses ficava a frente do computador estudando as ondulações para ver quando ela iria funcionar, e principalmente quando poderia estar lá para ver as maravilhas da natureza em formatos cilíndricos, perfeitos!

Fazia tempo que não a avistava de longe, em cima de sua pedra, fingindo não estar nem ai para o mundo, mas lançando de forma secreta todo o seu feitiço, não como uma sereia mas como a feiticeira que és.

A tempos as ondulações não quiseram combinar como meus horários de “escravidão” dentro da selva de pedra. Trabalho, trabalho e mais trabalho e lá as ondas estavas a chegar. Sofri diversos dias, a saudade estava absurda.

Nesse último final de semana, parecia estar tudo certo, o vento, o período das ondas, até estava otimista quanto ao tamanho. Boletins, sites, mapas, tudo estava ali, estava ansioso, logo vou dormir na noite fria de sexta feira. Antes, programo os relógios para as 5 e 10 da matina, surfista que é surfista acorda ainda de noite para ir atrás de suas amadas aquáticas.

Levanto no meio daquela preguiça básica, onde o diabinho sob o ombro tenta me convencer a continuar dormindo. Um Cala-boca de água fria na cara faz o diabinho voltar rápido para seu lugar. O otimismo invade o coração e a alma, vamos embora, é hora de surfar no meu antigo quintal.

Sozinho na estrada, procuro em meio de meus CD’s um que combine com esse momento, tento um, o som se recusa a ler-lo, procuro outro, e o mesmo acontece – as vezes meu som pode ser bem temperamental – na terceira tentativa eis que surge um dos melhores discos de todos os tempos, o Black álbum do Metallica. Nada poderia ser mais perfeito! Intersand Man a todo volume!

Chego á praia logo, eram 7 e pouco da manha, o sol dava um visual insano para a praia, meu coração estava explodindo, sai correndo do carro em direção do calçadão para ver minhas princesas, chego meio ofegante e logo vejo...

Elas... Não estavam lá...

O visual era de uma baia lisa, quase sem nada de ondas, apenas alguns marmanjos com seus Stand Up’s, tentando fazer algum exercício. Logo me vem aquele sentimento de decepção, não sabia o que fazer, não queria novamente ir ao Guarujá, ainda mais num sábado... Quando estava quase desistindo e voltando para casa, vejo sob o ombro uma série, humilde, mas com potencial para ser surfado.

Voltou correndo para o carro, pego a prancha, arranco a camiseta, tranco tudo e saio disparado para o mar. Corro por vários e vários metros, até o teleférico, de lá, água!

Chego ao fundo e percebo a verdadeira realidade, não tem onda hoje! E logo vem aquele papinho safado que sempre rola no outside, “Pô Brow, você tinha que ter visto ontem, tava perfeito”, droga, pensava!

Depois de alguns minutos de espera naquela manha fria, porém ensolarada vem uma série de três ondas, pego uma delas e logo vejo que pode ser bom, que nem tudo estava perdido.

Voltando para o fundo, olho sob o ombro e vejo lá longe a minha feiticeira, peço a ela um pouco de magia naquela manha, quem sabe uma onda para marcar o dia, e diminuir a saudades dos cilindros poderosos que apenas ela pode proporcionar.

Depois de uma hora e pouco, o feitiço chega em forma de água esverdeada, sem muito poder, mas linda, lisa, e abrindo, é essa, remo como um maluco, não posso perder-la, “rema, rema, rema!!!” e lá sigo por suas linhas, com uma batida poderosa na junção. Missão cumprida! Valeu a pena tudo!

Depois ainda viria uma esquerdinha, linda, perfeita, que prazer!

São nessas horas que mesmo quando o desespero bate, quando a visão não mostra nenhuma condição de ser feliz, a perseverança ou simplesmente um impulso pode mudar tudo, pode te proporcionar um momento mágico, que faça tudo valer a pena.

A volta a São Paulo, foi tranqüila, devagar, sem pressa de chegar, apenas pensando, quando voltar!