"Surfar é uma arte e há muitas linhas diferentes para desenhar em uma onda" Kelly Slater







quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O Errante.




Os surfistas surgiram em meio de um monte de outras “tribos”, nos Estados Unidos em meados dos anos 60 (já existiam outros surfistas a muito tempo como nos conta a história, mas a meu ver a tribo começou lá, na Califórnia), tornando-se inimigos natos a sociedade, a principio eram arruaceiros, “vagabundos”, anarquistas aos olhos do mundo, que apenas queriam saber das ondas e de curtir a vida.

Marginais da sociedade os surfistas logo foram transformados em um rótulo, e claro que não era algo bom, ninguém queria ver o seu filho se “perder” no mundo virando surfista, engraçado que esse preconceito se foi, e não apenas os surfistas foram aceitos, como hoje em dia podemos ver em quase todos os lugares imagens e menções ao surfe.

Bom? Ruim? Não sei, por que hoje qualquer pessoa é surfista, qualquer mesmo, basta ir a uma loja na esquina e comprar uma bermuda, quem sabe uma prancha, e pronto, surfista desde pequenininho. É moda, e como toda moda a essência se perde.

Ser surfista virou até profissão e não se engane com os fatos do passado, dá dinheiro se você for bom, virou um esporte “comum”. Neste momento nos EUA, mais precisamente na praia de Treastles, Califórnia esta acontecendo mais uma etapa do Circuito Mundial de Surfe que pela primeira vez ira premiar ao campeão com um chequinho de 105 mil dólares, tá bom para você?

As vezes penso o que falariam aqueles surfistas dos anos 70 que eram “massacrados” pela sociedade, abandonados e que apenas curtiam as ondas, curtiam a liberdade e o prazer de estar no mar, surfando as ondas, ondas divinas que valiam qualquer esforço para sobreviver em meio daqueles que não entendiam ou que ignoravam o fato que estar no mar era excepcional sobre a transformação de sua “religião”.

Em meio de tanto capitalismo, de tanto dinheiro, os surfistas são astros, como do basquete americano, como do futebol. Tudo bem, você pode me dizer que aqui no Brasil não é bem assim, nenhum surfista se compara com a fama de um Kaká! Posso até concordar em termos, por que quem nunca ouviu falar de um tal de Kelly Slater? O Pelé dos mares?

O fato é que estava refletindo sobre um surfista em particular, que é o tema central deste texto. Pois é! É o cabeludo da foto que vocês viram logo que abriram o blog no dia de hoje. Seu nome é Rob Machado, surfista americano que dedicou boa parte de sua vida ao surfe competitivo, correndo atrás de troféus, fama e grana.

Cheguei a conclusão que ele é o mais “antigo” surfista da atualidade, por que antigo, já te explico, mas deixe-me falar um pouco desse cara ai, cabeludo, com cara de louco. Nos meados dos anos noventa, ele era o cara junto com o alienígena Kelly Slater que comentei antes, este último foi 9 vezes campeão do circuito mundial, e o primeiro, o Rob, nunca venceu, mas já foi 2° do mundo em 95.

Rob já deve ter seu 35 anos (ou um pouco mais, realmente não tenho a informação precisa, mas não importa), e largou as competições faz um bocado de tempo, e dedicou sua vida a procurar a pureza do surfe. Sim o cara não largou de vez a vida de competidor, por que ainda esta em seu sangue, mas perdeu aquela insanidade de competição que nada tem haver com o surfe.

A cerca de um ano, Rob embarcou em uma viagem espiritual no local que mais ama no mundo, a Indonésia, que para muitos é o paraíso na terra. Ele simplesmente abdicou de sua vida “normal” e fugiu do mundo por cerca de um ano todo, com sua prancha (ou pranchas), uma barraca e uma moto 125 cilindradas que comprou por lá mesmo.

Surfou muito, conheceu um mundo totalmente diferente do que é os EUA, sua casa, mas não terra natal, por que na verdade, teria que dizer mar natal, esse cara veio da água! Essa viagem resultou em um filme que se chama “The drifter” que significa “O errante” que vai sair em Novembro, tomara que chegue por aqui, por que deve ser espetacular!

Mas o que mais me chamou a atenção para esse Errante, é que nesses últimos dias acompanhando o campeonato que esta acontecendo na Califórnia que citei acima, me deparei com seu nome entre os competidores. O evento é realizado pela marca de surfe que o patrocina mesmo depois de ter se “aposentado” das competições.

Pois é, o cara estava de novo competindo, depois de uma expedição ao seu interior, estranho pensei, que coisa será que realmente o futuro do surfe é essa massificação, essa eterna vontade que o ser humano tem de ser melhor que o outro, mas foi apenas assistir as baterias dele que pude perceber que ele não esta lá para competir e sim para curtir.

Sujeito de fala mansa, contagiante, que tem surfe belíssimo, disse em uma entrevista algo assim: “cara, você viu a onda que ele pegou!?” comentando a onda de um adversário. Para quem conhece um pouco de surfe competitivo, que já assistiu alguma bateria, o que se vê na água é uma agressividade excessiva onde cada surfista luta por uma onda, e ele simplesmente não faz nada parecido, deixa a onda para seu “colega” e surfa, aquelas que vêm para ele.

Rob Machado vem dando uma lição silenciosa sobre o que é o surfe e de como devia ser encarado. O surfe não é essa massificação agressiva, não é uma modinha ou estilinho, é vida, surfar é o prazer de estar na água com um amigo, com um irmão, em família. Ser um “Soul surfer”, surfista de alma, é o que Rob tenta nos ensinar.

Ser surfista é apenas ser apaixonado pelo mar, pelas ondas, pela vida, ser surfista não é soltar manobras iradas e sair por ai falando que é bom. Ser surfista é entrar no mar e captar um pouco da energia que o mar nos oferece, ser surfista é ser um pouco Rob Machado.

2 comentários:

  1. o verdadeiro soul surfer
    obrigado rob :]

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  2. esse foi o cara que um dia disse: "tem dias que eu quero só acelerar parede afora e pronto. nada de manobras, só quero pegar o trem".
    sim, o cara é foda, sim, ele é soul, sim, o filme é foda. mas tb imagino o que os legends do passado diriam de um filme sobre um surfista solitário: "ué, mas se o cara é solitário, como é que isso virou filme? tinha um monte de gente trabalhando por trás disso, viajando com ele?". é, meu chapa, isso deu briga até na hardcore quando demos ele na capa com a matéria desse filme.
    solitário p... nenhuma.
    mas valorizemos a arte do cara. e o sangue bom que ele sempre foi.
    abraço e dá uma olhadinha na podcast que postei no meu blog, no canto esquerdo alto, clica play lá, e não estranha os sons ao fundo, são botas de soldados, depois guerra, choro e etc. aprendi a fazer essa parada, é mto loko.
    fui!

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