"Surfar é uma arte e há muitas linhas diferentes para desenhar em uma onda" Kelly Slater







segunda-feira, 11 de abril de 2011

A feiticeira.



Fazia tempo desde nosso último encontro, do qual a data me falha a mente. A ausência de simples coisas na vida, são como uma ulcera da qual você só percebe quando o problema já é grande, quando a dor é quase insuportável, ai meu irmão, é hora do remédio salvador e torcer pela cura!

Fazia tempo desde nosso último encontro. Há meses ficava a frente do computador estudando as ondulações para ver quando ela iria funcionar, e principalmente quando poderia estar lá para ver as maravilhas da natureza em formatos cilíndricos, perfeitos!

Fazia tempo que não a avistava de longe, em cima de sua pedra, fingindo não estar nem ai para o mundo, mas lançando de forma secreta todo o seu feitiço, não como uma sereia mas como a feiticeira que és.

A tempos as ondulações não quiseram combinar como meus horários de “escravidão” dentro da selva de pedra. Trabalho, trabalho e mais trabalho e lá as ondas estavas a chegar. Sofri diversos dias, a saudade estava absurda.

Nesse último final de semana, parecia estar tudo certo, o vento, o período das ondas, até estava otimista quanto ao tamanho. Boletins, sites, mapas, tudo estava ali, estava ansioso, logo vou dormir na noite fria de sexta feira. Antes, programo os relógios para as 5 e 10 da matina, surfista que é surfista acorda ainda de noite para ir atrás de suas amadas aquáticas.

Levanto no meio daquela preguiça básica, onde o diabinho sob o ombro tenta me convencer a continuar dormindo. Um Cala-boca de água fria na cara faz o diabinho voltar rápido para seu lugar. O otimismo invade o coração e a alma, vamos embora, é hora de surfar no meu antigo quintal.

Sozinho na estrada, procuro em meio de meus CD’s um que combine com esse momento, tento um, o som se recusa a ler-lo, procuro outro, e o mesmo acontece – as vezes meu som pode ser bem temperamental – na terceira tentativa eis que surge um dos melhores discos de todos os tempos, o Black álbum do Metallica. Nada poderia ser mais perfeito! Intersand Man a todo volume!

Chego á praia logo, eram 7 e pouco da manha, o sol dava um visual insano para a praia, meu coração estava explodindo, sai correndo do carro em direção do calçadão para ver minhas princesas, chego meio ofegante e logo vejo...

Elas... Não estavam lá...

O visual era de uma baia lisa, quase sem nada de ondas, apenas alguns marmanjos com seus Stand Up’s, tentando fazer algum exercício. Logo me vem aquele sentimento de decepção, não sabia o que fazer, não queria novamente ir ao Guarujá, ainda mais num sábado... Quando estava quase desistindo e voltando para casa, vejo sob o ombro uma série, humilde, mas com potencial para ser surfado.

Voltou correndo para o carro, pego a prancha, arranco a camiseta, tranco tudo e saio disparado para o mar. Corro por vários e vários metros, até o teleférico, de lá, água!

Chego ao fundo e percebo a verdadeira realidade, não tem onda hoje! E logo vem aquele papinho safado que sempre rola no outside, “Pô Brow, você tinha que ter visto ontem, tava perfeito”, droga, pensava!

Depois de alguns minutos de espera naquela manha fria, porém ensolarada vem uma série de três ondas, pego uma delas e logo vejo que pode ser bom, que nem tudo estava perdido.

Voltando para o fundo, olho sob o ombro e vejo lá longe a minha feiticeira, peço a ela um pouco de magia naquela manha, quem sabe uma onda para marcar o dia, e diminuir a saudades dos cilindros poderosos que apenas ela pode proporcionar.

Depois de uma hora e pouco, o feitiço chega em forma de água esverdeada, sem muito poder, mas linda, lisa, e abrindo, é essa, remo como um maluco, não posso perder-la, “rema, rema, rema!!!” e lá sigo por suas linhas, com uma batida poderosa na junção. Missão cumprida! Valeu a pena tudo!

Depois ainda viria uma esquerdinha, linda, perfeita, que prazer!

São nessas horas que mesmo quando o desespero bate, quando a visão não mostra nenhuma condição de ser feliz, a perseverança ou simplesmente um impulso pode mudar tudo, pode te proporcionar um momento mágico, que faça tudo valer a pena.

A volta a São Paulo, foi tranqüila, devagar, sem pressa de chegar, apenas pensando, quando voltar!

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